terça-feira, 29 de outubro de 2013

Senhor, por que o senhor atirou em mim?

Porque você era pobre, negro e morador de favela. Porque você é mais um que não dará em nada. Porque a revolta no Brasil dura pouco, assim como a memória. Porque o tiro foi certeiro acidentalmente. Porque se você morasse bem, fosse branco, não seria alvejado. Não você. Porque todo mundo que nasce na favela é menos. Porque "ver o pobre, preso ou morto já é cultural". Negro é drama. Porque os policiais estavam ali para verificar uma denúncia de "perturbação de sossego", e andar na rua com seu irmão de 12 anos faz muito barulho. Porque todo favelado é ladrão. Porque traz no rosto a face da favela, reconhecida facilmente por qualquer um.  (Eu, Jornalista)

Porque se eu fosse pobre, odiaria que uma pessoa segurasse mais forte a bolsa porque eu sentei ao seu lado no ônibus. Porque eu ficaria revoltada se a polícia invadisse minha casa porque moro em bairro suspeito. Porque eu ficaria puta da vida se matassem meu irmão, meu primo, meu vizinho porque ele tem "cara de ladrão" mas não era. Porque eu quebraria ônibus, bancos e monumentos públicos para chamar a atenção. Já quebraram tudo dentro do meu barraco e ninguém filmou. (Eu, favelada)

"Mas eu não sou pobre, sou classe média. Vejo tudo isso de longe, fico triste, mas ah..deixa pra lá. Eu não posso fazer nada mesmo. As coisas são assim e não sou eu que vou mudar." (Eu, no pensamento coletivo)

Porque eu acredito que posso ajudar, porque eu não quero me acomodar com essas injustiças. Porque eu acredito que através de textos, opiniões, palavras, reportagens, bater na mesma tecla todo dia, faz sim barulho. E assim se "perturba o sossego".

Porque eu acredito que talvez quem leia isso e mais qualquer texto que fale sobre quem não sabe ler, pode mudar de opinião e passe a fazer a sua parte quando uma situação cotidiana lhe pedir uma atitude. Porque eu já mudei minha opinião a partir de coisas que li e vi na TV em canais que prestam e a partir dali o meu comportamento foi diferente em diversas situações.

Porque eu acredito que a internet é uma obra maravilhosa, inspirada, e nasceu para conectar e juntar as pessoas com os mesmos ideais fazendo-as colocar suas ideias e planos em ação com uma facilidade e rapidez incrível, impossível antes dela.

Porque talvez, depois de ler isso e qualquer outra coisa que fale sobre violência contra pobres, você saia na rua e caso encontre alguém que precisa de ajuda, seja qual for a maneira, você ajude. Que se existe Deus, não joguemos mais a culpa toda para ele como sempre fazemos, até porque ele precisa de mãos humanas para ajudar outros humanos.

Porque eu penso que quem tem o conhecimento é quem é o responsável pelas transformações do país. É contigo que eles contam já que na escola que estudam, nada do que você aprendeu é ensinado a eles.

Que eu consiga ajudar sempre que precisarem de mim. Que eu tenha a consciência que mudar o mundo é isso, não o planeta em si. Que se toda vez que uma injustiça acontecer, como a do menino Douglas e do pai Amarildo, haja revolta e não acomodação. Saiam mesmo nas ruas! Que a imprensa fique em cima, até que a polícia comece a pensar duas vezes antes de atirar em mais alguém. (Eu, sonhadora)

Porque enquanto eu terminava esse texto, um amigo juntou em uma conversa no Facebook, outros amigos que se identificam pela sintonia, mandou uma música e escreveu o seguinte: " Essa música... a letra. Nós. E mais alguns que virão. Imergi na emoção. Mexeu comigo. E senti algo bom..."
A música: Everything Changes, do Soja. Ou seja: Tudo muda. A quem se interessar, vai ver a tradução.

Menino Douglas e pai Amarildo, o porque dos "senhores atirarem em vocês", a gente sabe. Mas saibam que existem pessoas que estão tentando fazer isso mudar e lutando do lado de vocês. Bons professores, fundadores de Ongs, músicos, jornalistas, políticos (sim, existem), artistas e policiais decentes estão se juntando e propagando suas ideias em busca de menos barbaridades. Demora, mas há de mudar.

Nos ajudem de onde estiverem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário