...Vem do sofá para a poltrona e senta sobre as pernas. Enrosca-se-lhe no pescoço. Ele a enlaça e lhe sente o cheiro e os seios.
- Deixe eu quietinha - pede-lhe ela. Depois: Só em você fico assim. Depois: Só tenho uma casa, que é esta. Depois: As outras pessoas nem são gente. Depois: Que é isto aqui no seu ombro? (Ele responde que deve ter sido mordida de mosquito.) Depois: Me bota na cama, assim como eu estou.
(...) Deita-a. Deita-se ao lado. Ela vira-lhe as costas e pede-lhe que a abrace. Ele pensa em como fica cômodo toda vez que a abraça assim. São poucas as pessoas a quem a gente se abraça e fica cômodo. As pessoas que se amam são confortáveis entre si. Ele ia explicando quanto o abraço dos dois dava certo, quando ela o interrompeu, dizendo que estava sentindo e pensando a mesma coisa.
(...) Na sala, a canção de Aznavour se repetindo. (...) Sorri. Ajeita mais o corpo no corpo dele. Segue um pouco a melodia de pleut, de boca fechada.
- Você tira a letra para mim?
- Tiro.
- Depois traduz?
- Traduzo.
Trechos de "Segredo do apartamento 912". Do livro As Crônicas de Antônio Maria. Maravilhoso. Quando crescer, quero escrever assim!
Nenhum comentário:
Postar um comentário