”Como repórter, uma das cenas que mais me dilacera e que se repete quase toda vez que piso pela primeira vez na casa de alguém que mora na periferia é quando me estendem sua carteira de trabalho para provar que não são bandidos. Homens e mulheres sofridos, assinalados pela vida dura, que sabem que já nasceram sob suspeição porque são pobres, e mais suspeitos tornam-se se ainda por cima forem também negros. E eu, branca e jornalista, sou decodificada como uma autoridade a quem também é preciso estender a carteira de trabalho. Recuso, digo que não precisa, repito que não devem. Insistem. Eu pego, morro um pouco. Neste gesto, toda a falência do Brasil é consumada.“Quando morre um policial, pode saber que em até 15 dias vai ter uma chacina. Nunca vai mudar.”A principal linha de investigação do massacre de 13 de agosto aponta para a vingança, por parte de policiais militares, pela morte de um colega durante um assalto, ocorrido na semana anterior, na mesma região. Na maioria das demais chacinas, também há suspeita de envolvimento de policiais. O 13 de agosto prova, mais uma vez, que as periferias paulistas vivem sob estado de terror, provocado por uma guerra não declarada. Nela, tombam os mais pobres, a maioria deles negros." (BRUM, 2015) Em outro texto.
"A repressão a suburbanos e favelados não é novidade no município. Ano sim, ano também, ao primeiro sinal de verão, pipoca o medo de arrastão e as autoridades propõem “higienizar” os coletivos que vêm da Zona Norte. O governador apoiou a polícia: “Quantos arrastões foram praticados por alguns desses menores?”. O secretário de Segurança arrematou: “Você tem um ônibus de adolescentes que não pagaram a passagem, que não tem o que comer, com fome, e você acha que eles irão voltar como para casa?”.
Já este trecho é desta coluna. Para mim interligados. E com a violência que os tratamos seremos tratados nesta incapacidade de tornar "eles" em "nós". "Poético, isso só dá certo no papel". Vai ver que é porquê a gente nunca tentou de verdade.
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