terça-feira, 12 de maio de 2015

Domingo de outono

Eu ia andar na praia para aproveitar o dia lindo que faz hoje. Dias de maio... Mas aí eu comi feijoada da mãe e antes mesmo de acabar o deguste, a cadeira já havia tratado de me acomodar. 

Sentei no sofá para fazer a digestão, ainda com a ideia do pé na areia. Mas um bom e fresco vento começou a entrar pela janela. Vento bom que acaricia os cabelos e a cortina e tem cheiro de maresia. 

Deitei. Do sofá eu vejo o céu. Azul, azul de maio. Dois pássaros voam bem lá no alto e aqui embaixo tudo fica em paz, como deve sentir quem nasce com asas. Deve ser para isso que serve o voo: sossegar. Deve ser por isso que humanos ainda não voam: somos providos do desassossego. Abençoado seja quem conhece a função profunda do verbo observar. 

O vento está tão fresco que permite até um fino lençol nas pernas acomodadas no braço do sofá. Ao lado, o neném repousa tranquilo nos braços de minha irmã. Na TV, Dr House e seus inteligentes diagnósticos. Na janela do prédio da frente, dois vizinhos conversam animados acompanhados por duas loiras geladas encostadas no batente. Camisa é de futebol. E de clássico que começa logo mais. 

Eu desisti da praia hoje. Dei as mãos para a preguiça desta tarde e me deixei admirar por ela. Tirei os óculos para olhar a árvore que mora na esquina, mas perto da minha janela. Tem coisas que mesmo míope, se mantém belas. Domingo de outono é uma delas. E essas pequenas grandes coisas também.

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