O homem da estação São Judas que chorava ao ler uma mensagem no celular.
A moça que balançava negativamente a cabeça enquanto olhava uma radiografia ao sol na Praça do Surfista.
O vendedor de algodão doce que entrou no ônibus lotado e conseguiu vender o que faltava.
O moço do semáforo que vendeu água pela janela para quem comeu o algodão doce.
O nigeriano que contou da formiga que chupa sangue nas cadeias de lá.
Gente sozinha que termina de almoçar e continua sentada, olhando para o nada.
Gente sozinha de madrugada.
Gente que anda devagar.
Gente que anda na chuva, sem guarda-chuva e sem correr.
Gente que fica olhando para cima.
Gente que reza na janela.
Gente sentada sem celular.
Gente poderosa que se esquece das voltas.
Gente descalça.
Gente que grita sozinha na rua.
Gente que canta em voz alta.
Gente que canta sem fone.
Gente que fala sozinha.
Gente que ri sozinha e disfarça.
Gente que tropeça e disfarça.
Gente que se assusta com buzina e disfarça.
Gente que está discutindo e disfarça.
Gente correndo de roupa sem ser de ginástica.
Gente que toca instrumento invisível.
Gente que tá sentada e num repente sai correndo.
Gente que aproveita a sombra das árvores.
Gente sem camisa em centros comerciais.
Gente sozinha.
Gente de mãos dadas.
Gente que dá comida aos pombos.
Gente pescando.
Gente de sol.
Gente de lua.
Gente dos dois.
Gente que varre a rua.
Gente que leva o lixo.
Gente que empurra carroça.
Gente que cuida dos jardins.
Gente que entrega comida.
Gente que xinga no trânsito.
Gente que pede calma.
Gente que troca receita.
Gente que troca outdoor.
Gente que entrega panfleto.
O amor que começa nos sapatos.
Criança escondida espiando da esquina.
É tudo gente que não deixa dúvida que a vida é feita de gente.